quarta-feira, 9 de maio de 2007

parte 3

3. Neoliberalismo: o mercado como princípio fundador, unificador e auto-regulador da sociedade.

É possível dizer que o capitalismo/liberalismo vem assumindo duas posições clássicas que se revezam: uma concorrencial e a outra estatizante.
A concorrencial ou estatizante que são as duas posições ou macrotendências como pode ser chamada também, vem orientando historicamente os projetos de sociedade capitalista-liberal, de educação e de seleção dos indivíduos.
A preocupação central da tendência concorrencial, é a liberdade econômica (economia de mercado auto-regulável), define-se nas seguintes características: a livre concorrência e o fortalecimento da iniciativa privada com a competitividade, a eficiência e a qualidade de serviços e produtos; a sociedade aberta e a educação para o desenvolvimento econômico em atendimento as demandas e às exigências do mercado; a formação das elites intelectuais; a seleção dos melhores, baseada em critérios naturais de aptidões e capacidade.
Agora, a preocupação central da outra tendência, que é a estatizante, se baseia no conteúdo igualitarista-social, com o objetivo de: efetivar uma economia de mercado planejada e administrada pelo Estado; promover políticas públicas de bem-estar social (capitalismo-social); permitir o desenvolvimento mais igualitário das aptidões e das capacidades, sobretudo pó meio da educação e da seleção dos indivíduos baseada em critérios mais naturais.
E com o desenvolvimento das duas posições ou macrotências, percebe-se a existência de dois paradigmas de condução de projetos diferenciados de modernização capitalista-liberal: esses paradigmas são o da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade e o paradigma da igualdade.
Dessa forma, com o auxílio dos dois paradigmas, o liberalismo tem demonstrado capacidade de adaptar-se, de incorporar críticas e de mudar de significado em cada momento (tempo e espaço) próprio do desenvolvimento do capitalismo, expressando sempre uma visão de mundo que mantenha a sociedade capitalista como uma realidade definitiva que se aperfeiçoa para o bem comum.
Há, no entanto, uma percepção mais clara dos sois paradigmas quando se voltam os olhos para as condições objetivas do mundo após a Segunda Guerra Mundial.
No período entre as Guerras Mundiais, em que surge a expressão neoliberalismo, duas tendências liberais estavam presentes: uma que aparece como reação ao liberalismo conservador e ao positivismo, e outra fiel ao liberalismo de J. Locke e A. Smith. È comum notarmos que essas duas posições se opõem na adoção de ações políticas, econômicas, sociais e culturais, para obter hegemonia na condução de um projeto de modernização capitalista.
A primeira tendência, o novo liberalismo/social-liberalismo, que tem J. Dewey (1859-1952) e M. Keynes (1883-1946) como maiores expoentes, assume a hegemonia ideológica na sociedade capitalista da Segunda Guerra Mundial até a primeira metade da década de 70, quando então começa a se esgotar.
A segunda tendência, o neoliberalismo de mercado (conservador e elitista), cujo maior expoente é F.A. Hayek, sai de seu estado de hibernação para dar novo fôlego e solução à crise mundial da década de 70, alcançando seu ponto mais alto nos governos de Ronald Regan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra).
Devido ao desenvolvimento dessas duas posições (concorrencial e estatizante), é perceptível a existência de dois paradigmas: o da Liberdade econômica da eficiência e da qualidade que está ligado ao capitalismo/liberalismo concorrencial e o da igualdade que está relacionado à posição estatizante-democrática.
O noliberalismo atende os interesses dos países desenvolvidos, prima por uma política que atenda os interesses do capital transnacional, para tanto, propaga a idéia de que tal economia é benéfica para todos, o que de fato, não é verdade. A democracia referida é restrita e sem finalidades para o estabelecimento de uma sociedade justa.
Esses fatores são refletidos na educação de modo a transmitir a desqualificação do público frente ao privado. O Estado por sua vez, mediante esta perspectiva vai desobrigando-se de sua responsabilidade der oferecer a escola única. Contraditoriamente exige-se mais escolaridade da parte do trabalhador, devendo ele possuir habilidades de comunicação a de avançar científico e tecnologicamente junto à empresa.
O movimento pela qualidade total tem como base o enfoque sistêmico, a administração eficiente e a tecnologia educacional. A tentativa de vincular esse processo à educação é chamada de notecnicismo.
Com relação a essa perspectiva, a avaliação do sistema e dos indivíduos fica a cargo uma abordagem positivista, na qual, oferece-se a precisão, a rigorosidade e a exatidão.
As Universidades públicas também são submetidas a essa ideologia, com discurso de que a única alternativa para alcançarem competitividade e qualidade seria a de aderirem a privatização. Percebe-se, portanto, diante do que foi pontuado, a existência de um novo desafio para os sistema educacional.
A adaptação das Universidades ao novo paradigma produtivo passa, então, por essa ótica economicista, pela adoção da filosofia da qualidade total (neotecnicismo) aplicada ao ensino superior. Postulam-se a legitimidade social e a eficácia total das universidades, que podem ser obtidas com sua inserção na busca da qualidade total, já que se vive na era da excelência. As universidades devem, então, agregar novos valores a seus serviços, ao mesmo tempo em que redescobrem sua natureza, sua missão e sua identidade. Porém ser úteis, se correspondem aos desafios do mundo atual: a satisfação dos clientes, a produtividade, a redução dos custos, a otimização dos resultados, a criatividade, a inovação e a sobrevivência pela competitividade. Pretende-se, portanto, que elas assimilem a ótica de funcionamento, os princípios e os objetivos da qualidade total (já vivenciados na indústria e no comércio). Essa nova cultura institucional levaria as universidades a buscar constantemente a qualidade total dos serviços, bem como a formar profissionais capazes de corresponder às sempre novas necessidades do mercado.Diante do exposto, verifica-se que a atual configuração estrutural e educacional, no plano mundial, impõe novos desafios e um novo discurso ao setor educacional. A lógica do capitalismo concorrencial global e do paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade encaminha, de forma avassaladora, o novo modelo societário e as novas reformulações necessárias no setor educacional. A compreensão histórica dos germes constitutivos da lógica capitalista-liberal revela, por sua vez, seu caráter conservador-elitista. Daí a necessidade de considerar a nova onda de forma histórico-crítica, a fim de aprender a direção política e as reais possibilidades de democratização da sociedade e da educação. Essa tarefa está associada à urgente necessidade de uma reestruturação educativa capaz de corresponder aos desafios impostos pela sociedade tecnológica à escola e ao campo da educação em geral.